Na fase de iniciar o desenvolvimento do produto, as startups deparam-se com a utilização de várias terminologias como MVP, protótipo, POC. Contudo muitas vezes, são aplicadas de forma incorreta. É fundamental que estes termos sejam corretamente interpretados de forma a permitir que o empreendedor identifique qual ou quais utilizar. Assim, evita-se erros comuns, desde funcionalidades defeituosas à elaboração de um produto ou serviço que não se encaixe no mercado.
Estas definições também permitirão que a ideia seja bem recebida quer pelos clientes quer pelas partes interessadas (como por exemplo, investidores), aumentando assim a probabilidade de sucesso de negócio.
O desenvolvimento do produto deve estar focado em alcançar o product-market fit, seja qual for a etapa que a startup se encontre. Este caminho representa a construção de uma forte validação da ideia por parte do mercado, envolvendo os vários tipos de desenvolvimento que serão abordados neste artigo.
De uma forma geral, uma validação inicial do mercado permite obter uma resposta à pergunta “As pessoas têm este problema?”. Uma prova de conceito (POC) representa a confirmação se o empreendedor pode ou não criar a solução. Já um protótipo demonstra como a solução irá ser criada e um produto mínimo viável (MVP) demonstra que esta solução deve ser criada. Por fim, o Product-Market-Fit (PMF) confirma se a hipótese está correta ou não.
Proof Of Concept (POC)
Uma prova de conceito é um exercício com a finalidade de determinar se uma ideia pode ser transformada em realidade. Ou seja, é verificada a viabilidade da ideia ou se esta pode ser implementada conforme planeada. No desenvolvimento de software, POC determina se a ideia é operacionalmente viável.
Esta abordagem é frequentemente utilizada para captar a atenção das partes interessadas (como por exemplo, investidores) numa fase muito precoce da startup. Assim, não será exibida publicamente para clientes, uma vez que é apenas uma demonstração teórica do conceito.
Não deve ser investido muito tempo nem recursos na elaboração de um POC. Este serve apenas para demonstrar a praticidade de apenas uma parte do sistema, o que significa que certos projetos terão de desenvolver vários POCs para testar diferentes componentes.
Questões como funcionalidade, performance, usabilidade, escalabilidade não são abordadas neste exercício. Em vez disso, o seu foco é oferecer provas concretas de que existe uma oportunidade com bastante potencial. Também pode ajudar o empreendedor a detetar possíveis problemas técnicos e logísticos que possam interferir no sucesso da startup.
Concluindo, um POC responde à questão “Esta ideia é realizável?”. Obtendo a resposta, o empreendedor pode abandonar a ideia ou então ser utilizada para obter financiamento para criar protótipos.
Protótipo
Enquanto o POC define se a ideia pode ser feita ou não, um protótipo demonstra como esta será desenvolvida, como será o seu aspeto visual e como será usada. Ou seja, é como um rascunho muito inicial do produto que transforma a ideia numa versão muito reduzida. Assim, permite testar e avaliar a usabilidade, funcionalidade e design.
Startups utilizam protótipos como a primeira iteração do seu produto a fim de testar a hipótese de resolução do problema identificado. Contudo, este modelo ainda não representa um produto viável na perspetiva do cliente. Não é esperado que um protótipo tenha todas as funcionalidades do produto, nem que tenha toda a usabilidade e estética já definida, mas sim um esboço do que o produto final pode ser.
Constituição de um protótipo
Tratando-se de um projeto de software, um protótipo normalmente inclui os seguintes tópicos:
- Wireframes/ecrãs;
- Especificações do produto;
- Funcionalidades esperadas;
- Personas que consiste numa representação fictícia do cliente ideal para o produto;
- Mapa de jornada do utilizador, diagrama que ilustra visualmente o fluxo de navegação deste perante um produto, relatando as experiências vividas ao interagir com o produto;
- Fluxogramas a fim de explicar de uma forma muito simples um processo ou vários processos envolventes na elaboração do produto.
Sendo que este deve ser desenvolvido pelos fundadores da startup, designers e engenheiros, de modo a garantir que a ideia é transmitida com clareza.
A principal vantagem da utilização deste tipo de desenvolvimento do produto é a recolha prévia de feedback de clientes ou outros intervenientes. Esta permite corrigir ou adaptar o conceito antes da sua implementação prática. Estas correções de eventuais erros são mais baratas e mais rápidas nesta fase do que quando já está o produto a ser desenvolvido, o que reforça a importância da elaboração deste modelo.
Resumindo, um protótipo é um modelo interativo do produto que permite visualizar como este será feito, qual a sua aparência e como será a experiência do utilizador. Isto tudo sem ter de passar por todo o processo de desenvolvimento do produto. Através deste é apresentado o primeiro “look and feel” do projeto ás partes interessadas. É uma boa forma de obter uma validação de mercado mais forte do que a obtida anteriormente.
Existem vários tipos de protótipos, desde um rascunho num pedaço de papel até uma representação mais detalhada do produto a desenvolver.
Minimum Viable Product (MVP)
É definido como uma versão inicial de um novo produto apenas com as caraterísticas fundamentais para captar os primeiros clientes. Assim, consegue-se recolher a máxima quantidade de feedback com o menor de esforço realizado. O objetivo do MVP é evitar custos de desenvolvimento desnecessários. Para isso, coloca-se o produto o mais rápido possível nas mãos dos clientes e, através destes define-se e desenvolve-se as funcionalidades mínimas do projeto.
O MVP não é um produto que as startups decidem lançar no mercado, mas sim uma fase de desenvolvimento deste. É alcançado quando o mercado assim o dizer. Representa um processo de construção, medição e aprendizagem onde são feitas várias iterações baseado no feedback obtido pelos clientes. Ao contrário de um protótipo, o resultado deste processo tem de ser obrigatoriamente um produto viável para o cliente, contendo as funcionalidades mínimas para atribuir valor a estes.
Esta abordagem de desenvolvimento permite aprender como os clientes reagirão ao projeto antes de se investir muito dinheiro e desenvolver funcionalidades que estes não precisem. Embora os protótipos resolvam problemas durante uma fase anterior ao desenvolvimento, esta fase de MVP é elaborada com o objetivo de identificar os pontos de dor dos clientes quando o produto é realmente testado no mercado.
A principal vantagem deste modelo é a possibilidade de verificação da viabilidade, hipóteses, usabilidade do produto assim como a demanda de mercado. Outras mais valias são a rapidez no lançamento no mercado, menos riscos associados, maior flexibilidade e adaptação, atribuição de valor à opinião dos clientes e prevenção de desperdícios de recursos (tempo, dinheiro e esforços).
Concluindo, um MVP permite o desenvolvimento do produto com funcionalidades mínimas. Iterativamente cria-se uma versão melhor e mais robusta deste, aproveitando-se da opinião dos clientes para tomar as melhores decisões possíveis.
Product Market Fit (PMF)
Este é o processo que acontece após ser atingido o MVP e representa o fator mais importante na determinação do sucesso ou insucesso do produto. Apesar de ser um conceito vago, o PMF representa ter uma solução que resolve um problema para um número significativo de clientes independentes.
O Product Market Fit é alcançado quando uma startup encontra um modelo escalável e repetível que gera demanda. Ou seja, quando esta não precisa de angariar clientes e convencê-los a utilizar ou comprar os seus produtos, sendo que estes surgem por iniciativa própria. Após lançamento do MVP, dá para sentir quando e se o PMF está a acontecer.
Métricas de PMF
Alguns sinais são óbvios, como quando os clientes elogiam o produto ou quando a frequência de vendas aumenta. Outros não são tão óbvios, sendo por isso necessário a utilização de algumas métricas, como:
- Questionário “Must-have”: consiste num questionário de 1 a 2 questões sendo que a questão “Como se sentiria se já não pudesse utilizar o produto?” deve ser colocada. Sean Ellis afirma que se 40% ou mais dos clientes responderem “muito desapontado”, então a startup pode estar perante um PMF;
- Questionário de recomendação: consiste na colocação da questão “Qual a probabilidade de recomendar o produto a um amigo?”;
- Receita Mensal Recorrente: Brad Feld desenvolveu esta métrica que avalia o crescimento monetário da startup. Segundo este, uma empresa que apresente um crescimento ano após ano superior a 50% pode estar perante um PMF.
É necessário compreender que a maioria das empresas não atingem o Product/Market Fit de um momento para o outro, depois de alcançar algumas métricas. Pelo contrário, este é um processo contínuo. Fica mais forte à medida que são feitas melhorias validadas pelos clientes, não apenas no produto, mas também em estratégias de vendas e marketing adotadas.
PMF como uma procura constante
Uma ideia errada, mas comum nas pessoas é que uma vez alcançado o PMF, para sempre PMF. É necessário que o empreendedor tenha consciência de que nada é garantido e estamos em constante mudança. As tecnologias mudam assim como as vontades e necessidades dos clientes, o que implica que o produto precise de acompanhar estas mudanças a fim de não permitir que a concorrência os ultrapasse.
Concluindo, este conceito é essencial para ditar o sucesso ou insucesso de um projeto. É necessário avaliar o tamanho de mercado, contratar equipa de trabalho especializada, definir os processos operacionais e de vendas, melhorar o produto enquanto se testam novas funcionalidades para estabelecer um bom rumo da empresa.
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