Ter uma ideia é obviamente o primeiro passo para construir um negócio. Contudo, esta não pode ser tratada como o único ou até mesmo o fator mais importante. Financiamento é imprescindível nas diferentes fases do projeto. Por isso, é necessário que o empreendedor reflita acerca das suas necessidades monetárias e quais as formas de obter dinheiro para startups existentes.
Antes de começar a angariar financiamento, o empreendedor deve fazer uma análise cuidadosa em que aborde os seguintes tópicos:
- Necessidades de financiamento: avaliar o volume de recursos pessoais que podem ser aplicados no negócio;
- Mapear as possibilidades: identificar quais as formas de obter dinheiro para startups disponíveis que se alinham melhor ou coincidem com o perfil da empresa, consoante a natureza e dimensão desta;
- Organizar as finanças: uma vez que receber capital externo é um risco quer para o investidor quer para o empreendedor, é necessário considerar estratégias a tomar para manter um fluxo de caixa equilibrado;
- Preparar apresentação: obter financiamento também requer uma apresentação que faça jus ao negócio de modo a garantir o apoio por parte das entidades selecionadas.
Em seguida serão apresentadas as mais comuns formas de obter dinheiro para startups. É importante referir que estas devem adequar-se ás necessidades de investimento. A primeira fonte deverá surgir sempre do próprio investidor sendo que as outras fontes servirão apenas para complementar o autofinanciamento.
Bootstrapping
Este termo define a criação de uma startup a partir do zero utilizando apenas recursos próprios (dinheiro, tempo, entre outros). Assim, as únicas entradas de capital provêem das primeiras vendas. Estudos comprovam que mais de 80 % das startups são financiadas através das finanças pessoais dos seus fundadores.
É imprescindível que o empreendedor participe com algum capital próprio no financiamento da sua própria startup. Assim, irá transmitir credibilidade e confiança do projeto juntos de possíveis financiadores, quando a altura de procurar apoio externo chegar.
Este método não é fácil de se seguir uma vez que coloca todo o risco financeiro no empreendedor. Além disso, os recursos extremamente limitados podendo dificultar ou inibir o crescimento do negócio, impedir a promoção ou até prejudicar a qualidade e integridade do produto idealizado.
Por outro lado, apresenta várias vantagens para a startup. Aqui, o empreendedor possui o controlo total sobre o seu negócio, possibilitando que este construa a sua própria cultura e valores da empresa e não desperdiça recursos a procurar outras fontes de investimento.
Criar e lançar uma startup no mercado através de bootstrapping demora no mínimo o dobro do tempo do que com ajuda financeira externa. Não é uma opção que todos os empreendedores possam escolher ou segui-la até ao fim. Quer seja pelo facto de o mercado ser muito dinâmico e ser necessário um impulso por parte de terceiros, quer seja porque o empreendedor não tem condições financeiras de se sustentar. Mas, deve ser sempre a primeira tentativa do empreendedor.
Family, Friends and Fools (3F’s)
Este termo é muito utilizado no ambiente de startups e empreendedorismo. Representa o conjunto de indivíduos a quem o empreendedor deve recorrer em primeiro lugar para obter apoio financeiro para o seu negócio. Através deste método, o capital necessário nas primeiras fases do negócio é obtido junto de pessoas de confiança. Tais como familiares e amigos que acreditam no potencial da ideia.
O motivo pelo qual os tolos encontram-se neste grupo está relacionado com o risco associado a empréstimos ou investimento numa startup. Normalmente, estes indivíduos não são investidores sofisticados, pelo contrário, investem de maneira tola e por vezes, extravagante. Ora, é altamente recomendável que, qualquer empréstimo ou investimento seja legalizado. Assim, todos os intervenientes sabem exatamente o que podem esperar disto, sejam juros, participações no capital da empresa, retorno futuro ou integração na empresa como sócios.
O financiamento dos três F’s traz mais valias uma vez não envolve o processo formal que seria exigido por outra alternativa. Estes não irão fazer uma revisão detalhada do histórico de crédito ou exigirão garantias externas para fornecer o empréstimo. Da mesma forma, não complicarão nas opções de pagamento e taxas aplicadas. Apesar das facilidades que estas formas de obter dinheiro para startups apresenta, continua a ser um assunto delicado. Por isso é recomendado que o empreendedor aplique uma abordagem formal e compreensível na solicitação de fundos a estes indivíduos.
Crowdfunding
Representa uma alternativa aos métodos mais comuns de obtenção de financiamento. Consiste numa plataforma online de financiamento colaborativo ou coletivo onde indivíduos fazem doações anónimas em projetos que lhes interesse. Assim, o empreendedor apenas tem de se registar numa das várias plataformas de crowdfunding existentes expondo o seu projeto por um prazo pré-determinado e, qualquer pessoa que tenha interesse em ver essa ideia concretizada pode doar a quantia de dinheiro que desejar, geralmente montantes baixos.
Startups e empreendedorismo com uma vertente social bastante acentuada são bastantes beneficiados através deste método, devido ao seu caráter público e sem objetivo de lucro. Porém, o crowdfunding também começa a chegar a vários tipos de negócios, tais como engenharia e tecnologia.
Além de obtenção de financiamento, também é uma boa forma de obter uma primeira validação quer do modelo de negócio quer do produto a desenvolver e angariar sócios ou parceiros e clientes.
Equity crowdfunding
Derivado do conceito de crowdfunding, equity crowdfunding é uma plataforma de investimento coletivo ou colaborativo que converte as contribuições monetárias dos utilizadores em participações na empresa.
Este método é muito procurado por investidores. Permite que estes financiem online em startups e empresas em expansão recebendo uma parte da mesma na forma de participação societária ou de títulos conversíveis de dívida. Ou seja, futuramente podem vir a ser convertidas em participação societária da empresa investida. Isto permitiu que indivíduos com capacidades monetárias possam investir diretamente em startups com grande potencial de crescimento através do seu computador.
Através destas plataformas de equity crowdfunding, as partes interessadas podem selecionar e investir em startups e empresas pré-selecionadas, obtendo todas as informações necessárias para tomar a decisão em conjunto com estas, tudo num espaço de horas, tornando o processo muito fácil e acessível. Assim, este representa uma das formas de obter dinheiro para startups.
Business Angels
Business Angels são geralmente indivíduos reformados ou antigos empreendedores, que pretendem ajudar as novas gerações. Assim, investem o seu próprio dinheiro em startups e pequenas e médias empresas.
Estas formas de obter dinheiro para startups é bastante popular neste ambiente de empreendedorismo pela particularidade de estes estarem dispostos a investir em startups, mesmo com um cenário económico desfavorável. Atualmente, um BA é considerado um dos intervenientes indispensáveis no processo de financiamento de novos negócios, especialmente nas fases iniciais (seed stage e startup stage).
Além de apoio financeiro, estes também colocam à disposição do empreendedor a sua experiência e rede de contactos. Além disso, oferecem aconselhamento e acompanhamento personalizado, em troca de uma parte do capital do negócio. Estas entidades têm mais tempo para se dedicarem aos projetos que escolhem investir, resultando numa maior flexibilidade em comparação com os Venture Capitalists. Contudo, não se envolvem diretamente na administração destes, deixando nas mãos do empreendedor ou fundador esta função.
Apresenta vantagens para ambos os lados. Do empreendedor, a facilidade em atingir partes interessadas que sozinhos seriam de difícil acesso, e do investidor conhecer atempadamente a existência de oportunidades de negócio.
Estes podem ser encontrados online, em eventos de empreendedorismo, através de apresentações de outros fundadores de startups, entre outras formas. Apesar da sua tendência para a discrição, não é difícil encontrar Business Angels.
Venture Capitalists
Capitalistas de risco são investidores que financiam startups e pequenas empresas com potencial de crescimento a longo prazo. Estes investidores podem ser indivíduos ou empresas e normalmente encontram-se envolvidos em vários projetos em simultâneo. Consequentemente, leva a que tenham menos tempo disponível para auxiliar as startups. Contudo, mantêm-se a par do que é feito em cada uma delas. Por este motivo, esta é uma boa opção para empresas que estejam prontas para a fase de crescimento, onde os conceitos e matrizes do negócio já estão definidos.
VCs constituem uma das principais fromas de obter dinheiro para startups. Geralmente, encontra-se direcionado para negócios inovadores de caráter tecnológico e de elevada rentabilidade ou empresas que pretendam expandir-se para mercados internos ou externos, onde se verifique um crescimento rápido deste negócio. São caraterizados por serem minoritários, temporários e empenhados.
Apresentam valor através de apoio financeiro, avaliando o melhor uso do capital que têm para investir. Para isso, têm em conta os seus próprios incentivos alinhados a fim de permitir que empresas de grande potencial tenham oportunidade de crescer. Além disso, ajudam a transformar a ideia numa estratégia e num plano de ação e abrem portas a startups através da sua rede de contactos.
Estes indivíduos têm consciência do risco que existe em financiar empresas deste caráter incerto. Ou seja, assumem uma posição acionária, fornecendo apoio em troca de ações da empresa que auxiliam, tendo sempre uma palavra em todas as decisões tomadas nesta.
Incubadoras e Aceleradoras
Outra forma de obter financiamento para startups é através dos programas de incubação e aceleração. São uma das principais fontes de recursos para projetos de pesquisa e inovação. Além disso, podem ser um ponto de entrada para vários tipos de investidores.
Estas organizações lançam concursos para startups e empreendedores com ideias de negócio inovadoras. Geralmente, as vencedoras poderão usufruir de um prémio monetário além dos vários recursos administrativos, logísticos e técnicos ao seu dispor. As incubadoras encontram-se destinadas mais para empresas que se encontrem nas fases embrionárias ou iniciais do seu negócio enquanto que as aceleradoras focam-se mais em empresas numa fase mais avançada e que precisem de acelerar o crescimento do negócio.
Através das suas redes de contactos, estas entidades facilitam o acesso a investidores externos. Assim, os empreendedores têm a possibilidade de apresentar os seus projetos a vários tipos de fontes de financiamento que, muito dificilmente conseguiriam alcançar sozinhos. Investidores também procuram voluntariamente startups inseridas nestes programas que possam apoiar uma vez que o alto potencial de crescimento e o seu baixo custo operacional tornam estes negócios atraentes para os investidores.
Bancos e agências governamentais
Estes dois grupos correspondem ás formas de financiamento tradicionais, mais conhecidas e mais utilizadas por empresas ou empreendedores.
Bancos
Os bancos geralmente não são o método mais fácil de obter capital para startups e pequenas e médias empresas. Os critérios são bastantes rigorosos para o nível de risco elevado que estas acarretam. Ter uma boa ideia não é suficiente, é necessário ter um histórico sólido, um excelente crédito e um plano de negócios bem estruturado. Por norma, também pedem uma garantia pessoal por parte dos fundadores ou a existência de um fiador para que esta entidade considere fornecer algum tipo de apoio financeiro.
Os empréstimos bancários são a fonte de financiamento mais usada para startups e PMEs onde a quantia total é disponibilizada pelos bancos em troca de pagamento de juros desde a sua concessão. Esta é uma boa opção para investimentos de médio e longo prazo sendo que os juros são de valor baixo e fixo.
Créditos bancários também são bastante solicitados aos bancos para apoio financeiro na criação e desenvolvimento de uma empresa e segue os mesmos princípios que um empréstimo, com algumas diferenças. Aqui, a quantia disponibilizada é de um valor mais baixo, é destinado a investimentos de curto e médio prazo onde os juros geralmente são altos e variáveis.
Quanto maior o risco envolvido no projeto, maior as taxas de juros sendo por isso, essencial que o empreendedor recolhe e apresente o máximo de indícios possíveis que comprovem a solidez do seu projeto a fim de obter as condições mais amigáveis para novas empresas que muitos bancos disponibilizam.
Agências governamentais
Outra fonte de financiamento são os obtidos através de agências governamentais. São cada vez mais, os concursos promovidos quer a nível nacional, quer a nível internacional, destinados a ideias, projetos e pequenas e médias empresas. Os tipos de programas de apoio das agências governamentais variam de país para país, mas em regra geral, oferecem taxas de financiamento mais competitivas do que as praticadas pelos bancos públicos e privados.
Estas entidades fornecem subsídios, doações ou incentivos disponíveis para startups e PMEs. Porém, obter este tipo de ajuda pode ser bastante difícil devido à sua forte concorrência e critérios exigentes o que em alguns casos, pode ser prejudicial para as empresas. Para obter este tipo de apoio financeiro, o empreendedor deve fazer uma procura rigorosa sobre os vários tipos de programa e identificar aquela ou aquelas na qual o seu projeto se enquadra melhor uma vez que estes não aceitam qualquer projeto.
Corporate Venture
Os programas desenvolvidos por grandes empresas também são uma boa forma de obter financiamento para startups e pequenas empresas. Além de apoio financeiro, estas também disponibilizam os recursos necessários, como por exemplo rede de contactos e uma base de clientes.
Este tipo de investidores podem tornar-se uma importante fonte de recursos e têm como foco startups numa fase inicial com soluções inovadoras que possam ser integradas nestas corporações. Investir em startups também traz benefícios para as grandes empresas tais como identificação de novas ideias e tecnologias inovadoras que permitam combater as mudanças do setor, aumentar receitas e lucros, entre outras.
Atualmente, estas corporações estão a adaptar também o conceito de incubadoras e aceleradoras, lançando os seus próprios programas e ecossistemas para acolherem novas oportunidades de negócio.